segunda-feira, 29 de junho de 2015

Entrevista sobre Biomedicina e Docência com o biomédico Antonio Carlos Nogueira Neto

Segue a entrevista que concedi ao Biomedcast em formato de Texto, publicada pelo site Biomedicina Padrão.

Antonio Neto é Biomédico graduado pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (2006), habilitado em Análises Clínicas e Análises Ambientais. Mestre em Ecotoxicologia, pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen – CNEN- USP). Especialista na área de Meio Ambiente. Experiência de Docência, Coordenação de Curso, reconhecimento de cursos pelo MEC e preparação para ENADE. Atualmente docente do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI-ULBRA, nos cursos de Biomedicina, Enfermagem, Farmácia e Biologia, docente da Faculdade São Paulo – FSP e da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná - UNIJIPA. Membro da Comissão Municipal de Desenvolvimento Ambiental (COMDEAM).

Conte um pouco da sua trajetória profissional.

Antonio Neto: Iniciei a biomedicina com a intenção de atuar em pesquisa na área da saúde, porém no segundo ano da faculdade pensei em desistir e fazer Biologia para atuar na área ambiental e, conversando com um professor, o mesmo me esclareceu que o biomédico poderia atuar na área ambiental também. Desde então, comecei a me direcionar para a área de Análises Ambientais, fazendo estágios e participando de pesquisas. Sou habilitado em Análises Clínicas e Ambientais. Quando me formei já estava com o mestrado na área de ecotoxicologia encaminhado.

O que te motivou a ir para Rondônia? Há um déficit de profissionais nessa região? A remuneração é maior, para atrair profissionais de outros estados?

Antonio Neto: A proposta de trabalho foi boa. Na área de docência o salário acaba sendo quase que o mesmo, mas aqui temos a vantagem de ter muitas horas em apenas um local, otimizando o salário. Aqui temos um déficit de profissionais sim. A remuneração da área da biomedicina também acaba sendo a mesma, porém, como já disse, existe a otimização do salário. Pelas informações que tenho, temos cerca de 3 mil biomédicos registrados no conselho aqui na região norte.

Você já tinha interesse na área de docência, ou foi uma oportunidade que surgiu ao longo da sua carreira?

Eu tinha a intenção de ser professor, porém, mais pra frente. Mas a oportunidade surgiu quando eu tinha apenas 24 anos. Aí, acabei me apaixonando pela docência e hoje não me vejo fazendo outra coisa.

Você teve algum professor que te inspirou a seguir nessa área?

Tive vários professores que, de uma forma ou outra, me inspiraram. Eles ficam muito contentes quando veem que estou atuando na docência, mas o que mais contribuiu para tudo isso foi o Maurilio, que foi meu professor de Biologia geral e Microbiologia. Lembro dele falando do brilho nos olhos dos alunos e hoje eu posso ver isso.

Tem alguma coisa que você fez durante a graduação que te ajudou/ajuda na hora de dar aula?

Não diretamente, pois acabamos apresentando poucos trabalhos durante a graduação e, naquela época, eu não era bom nisso. Porém, indiretamente, tiveram os programas de iniciação científica e estágios que contribuíram para que eu melhorasse meu currículo e tivesse mais chances no programa de mestrado.

Você ministra quais matérias no curso de biomedicina?

Ministro parasitologia, hematologia básica , fisiopatologia, introdução às práticas laboratoriais, legislação biomédica, análises ambientais e algumas outras dependendo do semestre, além de ter algumas horas em estágio e pesquisa.

Quais metodologias você utiliza nas aulas? São mais tradicionais, ou você gosta de trazer coisas novas? A instituição te dá liberdade para escolher, ou impõe como você deve dar as aulas?

Eu sou mais tradicional, gosto de usar quadro pois vejo usar data show a aula toda dá sono nos alunos, portanto, tento mesclar um pouco dependendo da matéria. Quanto a coisas novas, busco trazer artigos e vídeos para ajudar. Tenho bastante liberdade para trabalhar.

Você acha que o mestrado e doutorado são imprescindíveis para atuar na docência? E no caso do docente não ter uma especialização stricto sensu, mas ter bastante experiência de mercado?

Com certeza são importantes, porém vemos muitos profissionais que saem do mestrado e doutorado e vão dar aula sem experiência alguma (que foi meu caso), se eu tivesse atuado um pouco mais em laboratório, com certeza teria me ajudado muito no início. A experiência no mercado é imprescindível, tanto que em avaliações do MEC para reconhecimento de cursos a experiência profissional conta pontos também.
Acho também que as pós stricto sensu no brasil devem se inovar, trabalhando também a parte didática voltada a pedagogia e outras coisas pois, apesar da titulação, não somos como um profissional da licenciatura. Hoje muitos professores mestres e doutores procuram pós-graduação em Docência do Ensino Superior para suprir esta deficiência. Além disso, essa pós vale pontos em concursos para docentes.

O que você mais gosta na docência?

O contato com os alunos é maravilhoso, conhecer um pouco da particularidade de cada um, ver que alguns se espelham em você (aquela coisa do brilho nos olhos). A troca de conhecimentos, de vivências, tudo isso é muito válido. Aprendemos muito lecionando. Também a parte de ter que se atualizar constantemente, ou seja, sempre estamos por dentro de coisas novas.
E tem o ambiente universitário que sempre gostei. Fui presidente de Diretório Acadêmico, vice de Atlética e quando entrei no mestrado continuei participando de eventos na faculdade que estudava, fui em oito interbiomed (risos). E hoje, claro que com outra responsabilidade, posso continuar sentindo esse gostinho da universidade.

Você também já foi coordenador de curso. O que achou da experiência?

A coordenação é uma responsabilidade muito grande, lidar com a parte administrativa e política do curso é muito pesado, porém, é gratificante você ver que o curso está caminhando como você queria.

O que você acha do perfil dos alunos do curso na instituição em que trabalha? São alunos aplicados, estudiosos, conhecem bem a biomedicina e o campo de atuação do biomédico?

Tive a oportunidade de lecionar por dois anos e meio em SP (que dizem que o estudo é o melhor do brasil) antes de vir pra Rondônia, e vejo que o nível dos alunos é igual no Brasil todo. Temos salas heterogêneas, ou seja, alunos interessados, desinteressados, alunos com dificuldades e alunos com facilidades.
Eu diria que temos 50% de interessados e 50% de alunos que querem ser aprovados sem precisar estudar e pegar o diploma logo (recado pra eles) e que acabam desistindo no futuro. Quanto a conhecer o campo de atuação, por ser muito amplo eles desconhecem muita coisa, mas por isso temos a disciplina de Introdução à Biomedicina, onde a profissão é apresentada.

Como é dar aula para outros cursos, além da biomedicina? Você é respeitado pelos alunos desses cursos?

É muito legal. Por exemplo, eu leciono na farmácia que sempre tem aquela rincha de brincadeira entre as profissões. E eu tento sempre criar um clima legal a respeito disso, e levamos numa boa.
Na enfermagem os alunos são muito legais, muito esforçados, pois a maioria já trabalha na área como técnico e quer crescer dentro da profissão, portanto aprendo muito com eles também. Cada curso tem suas particularidades, mas todos me respeitam muito bem.

Como é a remuneração na área de docência? Há diferença entre universidades públicas e particulares?

A remuneração da particulares é praticamente igual, oscila entre 2 e 5 reais a hora/aula, e muitas públicas pagam até menos que as particulares, mas outras pagam muito mais. Nas federais e estaduais existe uma diferença grande. Hoje a pública que paga melhor é a UNEMAT. A grande vantagem de se trabalhar em uma pública é a jornada de trabalho. Apesar de se cumprir as 40 horas da mesma forma, na pública você tem mais horas dedicadas à pesquisa. Então, um professor de pública tem de 12 a 16 horas em sala de aula e o restante de pesquisa e atividades pedagógicas.

Quais as suas dicas para quem quer seguir na área de docência?

Comece desde cedo a participar de programas de iniciação científica, monitoria, participe de eventos, ou seja, tenha o máximo de horas em atividades complementares que você puder. Um bom networking é importante também, pois pode abrir portas para um mestrado. Seja “cara de pau” na hora de pedir para participar de pesquisas e monitorias; o não você já tem.
Fonte: http://www.biomedicinapadrao.com.br/2015/06/entrevista-sobre-biomedicina-e-docencia.html

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